Bird Box

by - segunda-feira, janeiro 28, 2019

Precisamos falar sobre Bird Box ou Caixa de Pássaros, se você preferir.

Foto: Tally Lima
Diferente de muitos, li o livro logo após seu lançamento em janeiro de 2015, meu livro faz parte da 1ª edição. Comprei ele em fevereiro, terminei de ler em março. Demorei mais para ler do que pra reler, esse é uma verdade.

Eu nunca havia relido um livro, esse foi o primeiro, mas não será o único. Já sei que a Netflix está em curso com a adaptação de Eu Estou Pensando Em Acabar Com Tudo, então esse é um dos livros que vou reler quando for marcada sua data de estreia.

Por que reler uma história?
Para pegar detalhes, nuances.

Em 2015, eu já tinha o costume de marcar meus livros, Bird Box tinha um total de zero marcações. Em 2019, fiz sete marcações, não são muitas, são apenas algumas frases que achei interessantes, impactantes ou por marcarem algo que estava sendo previsto antecipadamente, vou compartilhar parte delas mais a frente. Mas além das marcações, fiz várias anotações nas margens porquê elas dão explicações ou apresentam teorias para acontecimentos ao longo de toda a história.


Mas a decisão de reler Bird Box só veio depois de eu ter assistido ao filme. É ruim? Não, mas ele é positivo demais, esperançoso. E eu não tinha essa perspectiva, eu tinha a lembrança da angústia, da aflição e do medo, então eu sai do filme com a sensação errada. Sem contar a teoria que começou a rolar na internet de que: criaturas simbolizam a depressão, os pássaros os momentos felizes, "os fugitivos" sem vendas são pessoas que apreciam a morte - inclusive o livro tem uma teoria para essas pessoas. E em definitivo: eu não concordo em nada sobre o que foi dito sobre os simbolismos.

Comecemos pelo óbvio: esse post contém spoilers do livro - do filme também. Caso tenha tido contato somente com o filme saiba que meu foco é o livro. Vou falar do livro e inserir comentários do filme que se fazem necessários, não se assuste com as diferenças. Mas mesmo com as diferenças a história é basicamente a mesma. 

SINOPSE do livro - 2015:
       “Caixa de Pássaros” é um thriller psicológico tenso e aterrorizante, que explora a essência do medo. Uma história que vai deixar o leitor completamente sem fôlego mesmo depois de terminar de ler. Basta uma olhadela para desencadear um impulso violento e incontrolável que acabará em suicídio. Ninguém é imune e ninguém sabe o que provoca essa reação nas pessoas. Cinco anos depois do surto ter começado, restaram poucos sobreviventes, entre eles Malorie e dois filhos pequenos. Ela sonha em fugir para um local onde a família possa ficar em segurança, mas a viagem que tem pela frente é assustadora: uma decisão errada e eles morrerão.

SINOPSE do livro já com o filme - 2018:
       Quatro anos depois de as mortes terem começado, há poucos sobreviventes em Michigan. Malorie e seus dois filhos pequenos estão entre eles. O trio faz parte do grupo que tenta resistir em um mundo no qual abrir os olhos pode ser fatal. Vivendo em uma casa abandonada, Malorie e os filhos não sabem o que se passa do lado de fora. Sempre com as janelas e portas cobertas e sem comunicação com o exterior, o local é uma área isolada no meio do caos. Até o momento em que uma misteriosa neblina atinge a região e Malorie toma uma decisão que adiou por muito tempo. Após quatro anos trancados, Malorie e as crianças fogem da casa em um barco a remo na esperança de encontrar um lugar distante do surto que matou todos ao seu redor. De olhos tapados, os três encaram uma viagem assustadora rumo ao desconhecido. Com uma trama cheia de suspense e terror psicológico, Caixa de pássaros explora a essência do medo em um mundo pós-apocalíptico.

No livro temos os personagens: Shannon, Malorie, Tom, Don, Felix, Cheryl, Olympia, George, Jules, Victor e Gary. Todos têm participações importantes na narrativa do passado. O presente é representado pelos acontecimentos no rio e depois dele.

O livro tem 43 capítulos e intercala a fuga pelo rio com as semanas antes do refúgio na casa e os meses de convivência dentro dela. As coisas vão acontecendo aos poucos, não de forma acelerada. Não é spoiler dizer que: Malorie está grávida e que chega ao final viva e com duas crianças. Fica a pergunta: o que aconteceu com os outros moradores? Ela estava grávida de gêmeos?

Malorie tinha recém se mudado com sua irmã Shannon – sim, o nome da irmã é esse - para uma casa em busca de viverem seus sonhos. Estavam dando seus passos e tentando provar para a família e amigos que conseguiriam se entender ao ponto de dividirem o mesmo teto como adultas e terem uma relação saudável. É Shannon quem conta a Malorie sobre “O Relatório Rússia” ou “O Problema”, ela estava realmente preocupada com a situação desde o início. Com Shannon se preocupando com tudo, Malorie está sendo conduzida, guiada e fica mais tempo focada em si mesma, ela só começa a dar atenção aos ocorridos quando a situação está bem avançada e seus pais já não atendem mais ao telefone.

“As criaturas são como o infinito. 
Algo complexo demais para a nossa cabeça. 
Nossas mentes têm limites. 
Essas coisas estão além deles. 
Fora do alcance.”
Tom (pág. 48) 

Malorie descobre a gravidez já nas primeiras páginas. Não é segredo. E as irmãs vão vendo as coisas se transformarem pouco a pouco, mesmo que tudo pareça normal com a internet em plena atividade apresentando novas teorias a todo momento; o rádio e a televisão transmitindo notícias; os serviços básicos como luz, telefonia e água sem interrupção. Mas as ruas já estão apresentando mudanças. Dia a dia vão se transformando. As pessoas já dirigem sem olhar no retrovisor ou de olhos fechados. As crianças já não vão a escola, já não brincam mais com seus triciclos nas ruas. As casas, a cada dia se fecham mais, é sempre um novo cobertor ou papelão ou madeira para bloquear a visão da janela, vale qualquer coisa que possa isolar o lado de cá do mundo exterior.

Passou algum tempo antes de Malorie sentir necessidade de sair da sua casa. Procurar abrigo porquê sabe que sozinha não vai conseguir sobreviver com o bebê. Ela não vai suportar estar no mesmo ambiente em que a irmã morta. Aqui uma diferença: Shannon morre em casa, não na rua. Ela já não se sentia mais segura naquele ambiente. Decide então buscar abrigo em Riverbridge “um local seguro, um santuário” conforme o anúncio do jornal.

A frase “não abra os olhos” nesse momento do livro já tem sentido completo. Não é mais seguro olhar para o mundo exterior nem por uma fração de segundos. E a partir daqui é que sinto as maiores diferenças em tudo. Personagens criados, personagens retirados. Houve mudanças na forma como as relações pessoais acontecem, como as mortes acontecem. Mais do que a mudança nas mortes dos companheiros da casa, o que mais me incomodou foi terem suprimido a relação entre Don e Gary, essa é a uma peça fundamental dentro da história, além de ter o fato de Malorie desconfiar de Gary desde sempre que nos é apresentado em vária situações. Mas a mudança na história do Tom foi bem recebida por mim.

O livro tem muitas passagens angustiantes além da tensão diária criada pelo racionamento de alimento. O livro é carregado de tensão, mesmo quando estão na casa porque sabemos que eles não estão sozinhos em vários momentos. A fuga pelo rio é assustadora. Estar no barco é angustiante.

“Sua preocupação só mantém você a salvo
 para que possa ficar ainda mais preocupada.”
Homem do Rio (pág. 59)

A mãe passou 4 anos sozinha com as crianças. As criou. As treinou para ouvirem, ouvirem muito bem. O poder de audição das crianças é absurdo, me lembrou Matt Murdock/ Demolidor.

“Você está salvando a vida deles para 
que tenham uma vida que não vale a pena.”
Malorie (pág. 10)

“Como pode esperar que seus filhos sonhem em chegar às estrelas
se não podem erguer a cabeça e olhar pra elas?”
Malorie (pág. 71)

É o que Malorie pensou durante os anos que passou com as crianças: será que é mesmo esse o futuro delas? Uma frase aparece em vários momentos na mente de Malorie “será que você é uma boa mãe?”. O livro conta a história pelo ponto de vista dela na maior parte do tempo. O narrador muda quando Tom e Jules saem por duas vezes em buscas pela vizinhança, aí vemos a perspectiva do Tom.

No livro são apresentadas algumas teorias. De como as criaturas afetam ou não as pessoas; de como elas surgiram e que poderia existir algum modo de driblar o efeito que elas causam quando são vistas. Depois de alguns testes falhos, sabemos que: todos podem ser afetados pelas criaturas, sejam humanos ou animais, porém algumas pessoas são afetadas de forma diferente.

Os pássaros surgem no livro depois de uma busca de Tom e Jules, mas não são só pássaros que os amigos trazem consigo, eles trazem mais dois cachorros, pois já tínhamos Victor desde o início. Os animais têm parte importante na trama e foram trabalhados de formas diferentes do livro, o que muda o rumo de como a da história se desenvolve, mas os pássaros são importantes dentro e fora da casa pois ajudam a saber se as criaturas estão próximas em ambos os ambientes.

Vendo o filme, eu sentia a falta da tensão que o livro me trouxe. Dos momentos obscuros, da angústia, do medo genuíno. A escrita do Josh faz com que você realmente tenha momentos de tensão e vontade de chorar, é um genuíno thriller psicológico muito bem escrito. É carregado de angústia e em vários momentos eu me senti sufocada. O filme é bem mais leve e tem sinais de esperança ao longo da narrativa. No livro mesmo depois do rio ter sido vencido, deles terem sido resgatados da mata, ainda temos momentos de insegurança e o clima de dúvida sobre um futuro sem medo persiste.

Foto: Netflix
Fez falta no filme:
★ Jules: como assim não temos Jules no filme?
★ Os cachorros, porquê eles ajudaram a construir a sobrevivência e a segurança de todos dentro da casa;
★A passagem do poço com Felix e da Cheryl ao alimentar os pássaros porquê ambas trouxeram muita tensão ao ambiente ao mostrar como as criaturas estavam sempre próximas;
★ A falta de riqueza no personagem do Gary, o personagem tem um bom background e muito mais momentos de ódio a nos oferecer;
★ Não trabalhar corretamente a ideia de que pessoas que eram consideradas "loucas" poderiam ser afetadas de forma positiva pelas criaturas e não cometer suicídio. Eles mostraram essas pessoas como "os fugitivos" e não explicaram nada sobre elas.

Achei desnecessário:
★ A mudança no nome dos personagens, Shannon para Jéssica e George para Greg;
★ A introdução de Lucy, que além de não acrescentar nada para a narrativa, ainda levou embora um personagem importante: Felix;
★ Não existir o personagem de Don. Temos Douglas que é o mais próximo do que seria Don, mas definitivamente ele não é Don. O personagem foi importante demais para tudo o que aconteceu para ter simplesmente não existido.

Pontos positivos:
Não terem dado uma formato, um rosto ou uma imagem do que seriam as criaturas;
A forma como o filme mostrou a existências das criaturas. Seja pelas vozes ou pela forma como o ambiente se comporta quando as criaturas estão perto.

Tudo que citei como desnecessário, pra mim é o que fez a história do filme ter uma vibe esperançosa.

Agora eu me pergunto desde 2015: por que a Malorie não levou pra Riverbridge mais coisas além de uma mala de roupas? Ela poderia ter levado o estoque de comida que tinha em casa, remédios, pequenos utensílios, livros, revistas. Ela foi de carro! Era só carregar o carro e levar. Teria sido de grande ajuda para ela mesma no futuro.

E também em como eles não se preocupavam com a alimentação dos animais, principalmente dos cães, mas a deles era sempre mencionada.

Em resumo: o livro apresenta realmente um mundo caótico, onde as pessoas simplesmente não sabem se terão chances de sobreviver. O filme, te mostra dificuldades, mas sempre com um ambiente de esperança. Muita gente amou, muita gente odiou o filme. Eu tinha achado o filme bem melhor antes de reler o livro, porque dá pra sentir muito mais as diferenças entre eles. Mas na verdade, não é nenhuma novidade pra mim já que em 95% das vezes eu sempre acho o livro melhor que a adaptação, seja filme ou série.

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